Futebol Feminino em Mocambique ...

Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Futebol Feminino em Moçambique

Este blog tem como objectivo divulgar informação de carácter desportivo

Futebol Feminino em Moçambique

Este blog tem como objectivo divulgar informação de carácter desportivo

QUERIAM QUE JOGASSE BÁSQUETE - afirma Inês Chingueleza

 

INÊS Chingueleza, 25 anos, teve que lutar contra tudo e todos para manter firme a sua preferência pelo futebol. Quando começou a jogar, aos 9 anos, no bairro T-3, em 1999, tudo ainda era muito novo. Falar de futebol feminino era quase proibido.

 

Tive que travar uma luta diária com amigas, amigos. Queriam que praticasse básquete ou outra modalidade, que segundo eles se adequava mais ao género feminino. A minha opção em jogar futebol foi alvo de muitas críticas de pessoas próximas de mim. Todos os dias tinha que ouvir os meus amigos a aconselharem-me para jogar básquete. Eu tinha paciência para ouvir e respeitava essas opiniões, mas nunca deixei de manter firme a minha paixão pelo futebol”, afirmou.

 

Se fora de casa, a atleta teve alguns constrangimentos, no meio familiar contou com apoio incondicional da sua mãe.

 

A minha mãe sempre me apoiou. Esteve presente em todos os momentos da minha carreira, sobretudo nos mais difíceis. Posso dizer que ela deu-me muita força para continuar a jogar

     

Inês, que tem como futebolista de referência, David Beckham (estrela do futebol inglês), conta que esteve para ir jogar na África do Sul. “Estive perto de ir jogar na África do Sul, mas esse sonho não se concretizou. Espero que num futuro próximo possa sair para jogar fora do país”, disse.

 

A camisola 7 das “canarinhas” é de opinião que deve haver mais apoios para a massificação do futebol feminino.

 

 

Faltam apoios e incentivos para que o futebol cresça ainda mais em termos competitivos. É complicado fazer desporto sem incentivos, pelo que peço a quem de direito para levar mais a sério o futebol feminino”, conta.

 

Fora das “quatro linhas”, Inês diz que realiza actividades caseiras, no entanto mostra-se pouco hábil para cozinhar.

 

Acordo cedo, sobretudo nos dias que tenho treinos, para ajudar a minha mãe na limpeza da casa e outros afazeres domésticos. Não sou muito boa na cozinha, mas faço um bom arroz”, rematou.   

 

 

Fonte:Jornal Noticias

SONHAVA JOGAR NO BARCELONA – conta Atália Mazuze (Talita)

 

TALITA é a melhor marcadora de sempre do futebol feminino. Por quatro épocas consecutivas que a avançada do Costa do Sol é a rainha do goleadoras. Com história escrita em letras garrafais na história do futebol feminino, a talentosa jogadora sonhava em marcar golos com a camisola do Barcelona, seu clube de coração.

 

Quando era mais nova sonhava em jogar no Barcelona. Cheguei a pensar que isso fosse possível e acho que ainda tenho qualidade para tal, mas já não tenho esperança que isso venha a acontecer. Sem apoio e incentivo das pessoas com algum poder no desporto foi muito difícil chegar a outros patamares”, afirmou.

 

Talita, 27 anos, fala da sua carreira com uma dose de amargura, não só pelo facto de não ter podido jogar além-fronteiras, mas também pela falta de apoios.

 

Ainda olham para o futebol feminino com algum desprezo. O tratamento que nos é dado é quase nulo. Divulga-se pouco e investe-se ainda menos. Acabei renunciado à Selecção Nacional por não haver incentivos nenhuns. O Costa do Sol, embora não pague salários, sabe premiar-nos e é o único clube dos grandes que ainda olha pelo futebol feminino”, explicou.

 

A atleta, que começou a jogar em 1998, aos 9 anos, na cidade de Xai-Xai, diz ter começado a jogar por influência dos irmãos.

 

Comecei a ganhar gosto pelo futebol vendo o meu irmão a jogar. Rapidamente percebi que tinha jeito para o futebol e com a mesma rapidez comecei a ganhar os meus primeiros títulos na equipa do Paradise em 2008 e em 2014 mudei-me para o Costa do Sol. Estou animada por ter deixado a minha marca, mas conforme disse gostaria de ter saído do país”, comentou.

 

Ao contrário de muitas meninas que optam pelo futebol, Talita teve apoio do seu pai.

 

Meu pai apoiou-me bastante. Não me colocou nenhuma barreira, deixou-me fazer aquilo que mais gostava e estou grata por isso. Quanto aos amigos a reacção já não foi a mesma. Alguns amigos meus  perguntavam por que não optava por praticar outro desporto. Para eles o futebol era só para os rapazes. A verdade é que nunca liguei muito a essas críticas, sabia que o mais importante era fazer o que gostava”, conta.

 

De acordo com a avançada, o futebol feminino atravessa hoje melhores momentos. “Felizmente, as críticas às meninas por jogarem futebol tendem a diminuir. O número de praticantes cresceu muito em todo o país. Penso que nós, que começámos a jogar na década 90, criámos condições para que hoje o futebol seja falado sem muitos tabus”, opinou. Contudo, Talita defende que é necessário se fazer mais publicidade na Imprensa para que seja mais conhecida.

 

Falando da sua vida pessoal, Talita diz ser estudante na Universidade Eduardo Mondlane e que em casa cozinha e ajuda nas limpezas.

 

Sou estudante. Estou a formar-me na UEM. Quando estou em casa faço as tarefas normais de toda mulher. Cozinho, faço limpeza. Sigo uma vida normal e procuro conciliar com a minha vida desportiva”, atirou.

 

 

Fonte:Jornal Noticias

JÁ LEVEI PORRADA POR JOGAR FUTEBOL – afirma Sara Simone (Sarita)

 

O INÍCIO de carreira de Sarita, jogadora do Costa do Sol, não esteve longe de ser um conto de fadas. A jogadora conta que chegou a apanhar umas “palmadas” dos pais que não queriam que ela jogasse futebol.

 

No início foi muito difícil para os meus pais aceitarem que eu jogasse futebol. Cheguei a levar porrada por causa da minha escolha, mas com o tempo eles e os outros familiares foram-se habituando a esta realidade”, conta Sarita.

 

A atleta, de 31 anos, acrescenta que nos dias de hoje a família acompanha-a de perto.

 

Hoje em dia toda a minha família vai ver os meus jogos. Apoiam-me, acompanham-me e aconselham-me. Com muita persistência consegui superar os momentos mais difíceis e devo dizer que não me arrependo. Quando olho para o meu percurso até aqui vejo que a minha escolha foi acertada. Ganhei títulos nacionais, da cidade de Maputo e ainda tive o privilégio de jogar fora do país. Na África do Sul representei a equipa do Luso África e ainda joguei no 1.° de Dezembro em Portugal. Foram duas experiências muito boas”, afirmou.

 

A “estrela canarinha” começou a dar os primeiros pontapés na bola na formação do bairro 25 de Junho, aos oito anos. Ela é de opinião que o preconceito existente numa menina jogar futebol será quebrado de forma gradual.

 

Nota-se que aos poucos as barreiras se vão quebrando. Quando iniciei em 1997 era tudo muito novo. Era um escândalo ver uma menina jogar futebol, mas vê-se cada vez mais praticantes e já não é algo do outro mundo. As pessoas começam a perceber que o futebol não é só para os homens, motivo pelo qual já se nota um maior investimento da parte dos clubes e do próprio Governo”, explicou.

 

Sarita acrescenta que é importante incentivar as mulheres a jogarem futebol ou até a praticarem uma outra modalidade.

 

Enquanto te ocupas com o desporto, falo do futebol em particular, minimizas o risco de te sujeitares a uma gravidez prematura, ficas menos propensa ao álcool e às drogas, além de que exercitando o teu corpo preservas a tua saúde. Incentivo a todas as meninas a jogarem futebol, pois não estarão a fazer mal nenhum, estarão sim a contribuir para o desenvolvimento do desporto no país”, frisou.

 

Questionada sobre o que deve ser feito para acabar com o “obstáculo”, a atleta respondeu que “Eu tenho o meu exemplo de persistência como o segredo para se lutar contra este preconceito. Não há melhor forma de combater do que jogar e não dar ouvidos aos que dizem que o futebol não é para as mulheres”, anotou.

 

Fora das quatro linhas, Sarita diz levar uma vida normal, igual a de toda mulher.

 

Não vivo de futebol, trabalho na Fundação de Lurdes Mutola e é de lá onde tiro o meu sustento. Faço trabalhos domésticos como cozinhar, fazer limpeza, coisas normais do dia-a-dia”, frisou.

 

Em relação aos títulos conquistados, o último dos quais pelo Costa do Sol, disse ser motivante. “Estou satisfeita por ter conquistado muitos títulos. Os nossos adversários foram dignos vencidos. Ao contrário do que muitos pensam, temos que trabalhar no duro para vencer jogos”, rematou.  

 

 

Fonte:Jornal Noticias

Fazemos a vida igual a outras mulheres

 

O FUTEBOL feminino vai ganhado cada vez mais relevo a nível nacional e, em paralelo, os tabus e preconceitos sobre a relação mulher-futebol vão-se desvanecendo.

 

O surgimento da Liga Nacional de Futebol Feminino (LNFF), em 2014, abriu espaço para uma maior divulgação e massificação do Desporto-rei no seio das raparigas.

 

Esta é a percepção compartilhada por algumas das jogadoras que venceram o último campeonato nacional pelo Clube de Desportos da Costa do Sol. Em declarações ao “Notícias”, elas falam da evolução do futebol feminino, das dificuldades que enfrentaram no início da carreira e da forma como encaram algumas críticas pelo facto de o “mundo” do futebol ser ainda considerado, por alguns círculos da sociedade, como exclusivo para homens. Sara Simone (Sarita), Inês Chingueleza e Atália Mazuze (Talita) partilham a sua visão sobre o assunto.

 

 

Fonte:Jornal Noticias